(Por ALDO MAES DOS ANJOS - Autor da Revista CARTUM)
Minha relação com a leitura e as histórias em quadrinhos começou aos 3
anos de idade, quando minha mãe, a Dona Yêda, lia gibis da turma da Mônica,
Walt Disney e outros títulos para me fazer dormir. Foi assim que me
alfabetizei. Naquele tempo, haviam as revistas que eram as minhas preferidas e
eu pedia para que ela lesse repetidas vezes. Então acabei decorando algumas
falas dos diálogos contidos nestas revistas e, quando ela ia ler outra vez a
mesma história, eu já havia memorizado o texto. Então eu ouvia a voz da minha
mãe pronunciando as palavras enquanto observava a sequência de letras nos
balões de diálogo. Assim pude compreender os fonemas e a pronúncia das sílabas.
Isso fez com que eu aprendesse a ler precocemente. Um dos clássicos desta época
com certeza foi o livro de 50 Anos de Walt Disney, que me deixava fascinado em
ver o autor conversando com seus personagens e as histórias eram ótimas.
Depois disso, comecei a ler todas as palavras que se
apresentavam na minha frente: marcas de carro, de geladeira, estampa de
camiseta, out door, etc. E os familiares colaboravam com suas palmas e
entusiasmo ao me ver realizando tais façanhas.
Minha mãe me incentivou a ler quadrinhos e meu pai, o Sr.
Aldo nunca deixou faltar material de desenho. Era só pedir que ele logo trazia
aquele embrulho mágico, que era meu presente favorito: uma resma com 100 folhas
de papel sulfite “Chamequinho” e duas canetas “Ultrafine”, da Paper-Mate.
Aquilo me bastava para produzir pelo menos mais umas dez edições. Comecei a
desenhar quadrinhos autorais aos 4 anos de idade e tenho guardado até hoje
vasto material desenhado entre os meus 9 e 14 anos, transparecendo uma sutil,
porém, nítida evolução de um ano para o outro.
No meu período escolar, sempre gostei de ler e tirei boas
notas fazendo redações. Li com gosto os livros da Série Vaga-Lume e os outros
que a escola pedia. Mas minha paixão sempre foram os gibis. Eu entrava em uma
banca de revistas como um urso enfia a cabeça num favo de mel e me lambuzava. Eu
sempre sabia o dia em que chegavam os lançamentos que eu acompanhava na “Banca
Jardim” e adquiria revistinhas no limite que a nossa capacidade financeira
permitia.
Cheguei a ter uma coleção com cerca de 1200 revistas em
quadrinhos, das quais me desfiz na mudança que fiz de Curitiba para Brusque, em
1986. Vendi uma parte num sebo, pra comprar cartuchos de Atari e guardei só o
essencial. Mas me arrependi amargamente quando descobri que jogos eletrônicos são entretenimento passageiro e leitura é pra vida toda. Na sequência, iniciei uma nova coleção
que chegou a ter uns 800 gibis, mas sempre com saudades daqueles dos anos 1980,
que me marcaram profundamente.
Na adolescência assinei algumas revistas (Placar,
Superinteressante, Bizz, Rock Brigade, Dynamite), acompanhava meio que “por
cima” os periódicos (Veja, Manchete, Isto É) e ficava atento na caixinha do
correio. Quando chegava novidade, eu lia tudo de cabo a rabo, no mesmo dia e
colecionava para posteriores releituras. Sempre fui um grande acumulador de
impressos.
Devido ao fato de ter começado a trabalhar em período
integral e estudar no período noturno, já aos 15 anos (numa época em que menor de idade podia trabalhar e ter carteira assinada), parei por alguns anos
com duas atividades que sempre gostei: desenhar histórias em quadrinhos e ler
livros. As quais voltaria a realizar na vida adulta.
Já aos 18 anos me despertou um retorno do meu hábito de leitura de livros. Nesta época de transição da vida, atravessei uma sequência de livros motivada pela minha intuição e por um questionamento interior que pedia algumas respostas. Todos os livros que tive contato nessa época me abriram portas diferentes e foram fundamentais na minha vida. Não sei o que teria sido de mim se eu não tivesse sido exposto ao conteúdo destas obras. Vou citar somente três exemplos, mas poderia dizer uns dez só dessa época, tranquilamente.
Exemplo nº 1: Devido a um problema de saúde que parecia irreversível, uma amiga, a Elisabeth, me indicou o livro “O Poder Infinito da Sua Mente” (Lauro Trevisan), o qual prontamente eu adquiri e me pus a ler. Então tive uma experiência significativa sob a influência de uma leitura compenetrada e atenta em um momento onde eu buscava uma cura com todas as minhas forças. O exercício mental proposto pelo autor, que realizei durante sete dias, gerou resultados e minha mão esquerda voltou a mexer depois de 6 meses paralisada e atrofiando. Depois de mais 30 dias eu realizava uma cirurgia que fez retornar os movimentos dos dedos e a natureza cuidou do resto. Com absoluta certeza este livro foi uma bênção recebida de Deus, por intermédio de alguém bem intencionado que se compadeceu da minha situação.Exemplo nº 2: Quando comecei a trabalhar interagindo com outras pessoas, um grande amigo, o Jonas, falou pra mim do best-seller “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas” (Dale Carnegie), que com certeza contribuiu para o meu sucesso em diversas situações enfrentadas, agindo de maneira gentil e com muita diplomacia.
Exemplo nº 3: Outro livro que mexeu um pouco comigo nessa época, foi “O Diário de Um Mago”, do Paulo Coelho, que me abriu a possibilidade mística de meditar e buscar minhas forças interiores para ser um trampolim no decorrer da vida.
O que eu quero dizer com essas narrativas, é que na vida adulta surgem outros compromissos, outras necessidades e passamos a encarar uma nova realidade. O adulto que alimentou o seu hábito de leitura durante a infância e adolescência, vai frequentar livrarias e bibliotecas regularmente, tornando possível esta verdadeira mágica, digna de conto-de-fadas, de encontrar o livro certo no momento adequado. Muitas vezes a gente é que é procurado pelo livro. Ele vem parar em nossas mãos, quando menos imaginamos e, sem pedir licença, vai abrindo as porteiras da nossa mente e jogando conteúdo para dentro. Informações preciosas, experiências de vida que nos servem de alerta, verdadeiros manuais de instrução de como se comportar na vida.
Cada livro que nos deparamos, quando lemos alguns em seguida, parece ser uma continuação daquele que acabamos de ler anteriormente. Mas a vida de um leitor não precisa ser uma busca por récordes de leitura, ou se obrigar a ler quando não está disposto. Tem que deixar fluir naturalmente, apenas espantando um pouco a preguiça.
Eu sempre fui e serei um leitor fiel. Mas confesso que nos últimos anos, reduzi drasticamente minha carga de leitura por um motivo até que aceitável: em 2001 decidi tornar-me um escritor. Desde então uma considerável porcentagem da minha vida foi destinada para a concepção das 368 edições que foram publicadas em 22 Anos!