Por: Aldo Maes dos Anjos (autor da Revista CARTUM).
"Aquele que suporta seus males com a mente calma, rouba a força e o peso do infortúnio". (Sêneca)
O cérebro humano é uma das mais poderosas ferramentas existentes no planeta, porém infelizmente não veio com manual de instruções, fazendo com que muitos de nós às vezes pilotem esta máquina sem o devido cuidado ou controle de toda a sua potencialidade. É preciso observar na prática o seu modo de funcionar para que possamos aprimorar o seu uso ao longo da vida.
Um dos vilões que nos fazem perder o comando do nosso supercomputador de bordo é o descontrole das nossas emoções. Quando alguém perde a cabeça, dá um "piti", arma um barraco, é como tentar fazer uma curva fechada em uma ferrari a 300 km por hora. Vai dar ruim. Para obter um melhor resultado, é necessário reduzir a velocidade até um ponto em que consigamos efetuar a manobra com perfeição. Assim igualmente devemos proceder: reduzindo o descontrole das nossas emoções, antes de dizer algo a alguém ou tomar alguma decisão importante. A emoção exagerada pode cometer alguns excessos e até mesmo erros terríveis e irreparáveis. Mas nada melhor do que uma bela respirada profunda, de vários segundos, soltando o ar também devagarinho, acompanhado de uma ponderação dos fatos, fria e racional, onde com certeza será tomada uma decisão mais coerente e equilibrada, evitando tretas e mal entendidos que podem gerar consequencias desastrosas e absolutamente evitáveis.
Essa medida vale também para outros sentimentos.
É aconselhável evitar prometer muitas coisas quando se está em um momento de alegria extrema, porque quem está ali do lado ouvindo vai cobrar algum dia.
Também não se deve tomar decisões importantes quando se está imerso em uma tristeza profunda, com um desânimo intenso, com muito medo, etc.
Um sentimento devastador, se não vigiarmos bem, pode dominar a nossa inteligência racional e nos fazer tomar decisões precipitadas, influenciadas por uma emoção fora de controle.
Não é tarefa das mais fáceis controlar um sentimento devastador, mas exercitando nossa compreensão, paciência e sabedoria interior, poderemos superar as circunstâncias que se apresentarem em nossa vida de maneira mais equilibrada. Assim como a água turbulenta do riacho que impossibilita a visão enquanto existe a agitação. Mas quando o movimento se acalma a poeira baixa, tornando a água cristalina e possibilitando enxergar através dela.
E é justamente quando a gente pensa que está tudo sob controle, que às vezes aparecem desafios que colocam em prova o nosso equilíbrio emocional. Vamos fazer o que for possível para amenizar todas as nossas possíveis reações equivocadas, mantendo a equanimidade emocional, ou a capacidade de manter-se feliz mas sem gargalhar muito, estar triste mas sem desespero e até mesmo estar bravo mas não enfurecido. Além de controlar inúmeras outras situações de perturbação mental pelas emoções descontroladas.
Quantas injustiças, mal-entendidos e arrependimentos que já não aconteceram por aí por causa de pensamentos desgovernados, gerados por uma emoção momentânea sem a interferência da nossa inteligência racional...
A nossa capacidade de raciocinar é aquilo que nos difere dos demais animais do planeta e precisamos colocá-la para funcionar, governando nossas atitudes, mesmo quando estamos dominados por alguma emoção preponderante.
Quanto mais equilibrados estivermos, mais limpa fica a nossa mente e mais coerente serão as nossas decisões. Trata-se de uma atitude sábia e evoluída recorrer a uma análise rápida dos fatos e das consequências que nossas atitudes poderão causar, antes de extravasar os nossos sentimentos.
Todo o esforço que fizermos para nos acalmar e racionalizar nossas emoções antes de tomar as decisões, é válido. Em situações de emoções descontroladas, devemos RESPIRAR mais profundamente (e se preciso contar até 10) e buscar um pensamento equilibrado, o qual vai facilitar o encontro das melhores soluções para os nossos problemas.
A principal dica para manter o controle da nossa mente é praticar essa capacidade com os pequenos acontecimentos inesperados ou empecilhos do dia-a-dia.
Virou o copo, caiu o pão com manteiga virado pra baixo, pisou onde não devia, furou o pneu da bike, enfim... aconteça o que acontecer, eu devo reagir sempre de uma maneira madura, facilitando a própria solução do problema, com um pensamento mais claro e equilibrado.
Quando estivermos mantendo o nosso controle emocional com os pequenos eventos corriqueiros é que estaremos aptos a responder de maneira equilibrada e eficaz a um possível dilema maior que venhamos a enfrentar algum dia, contribuindo na sua solução mais rápida possível. Quanto mais preparados estivermos no cotidiano, melhor será a nossa reação perante a possíveis eventos que estejam fora do nosso controle.
A todo momento, aconteça o que acontecer, eu devo pensar equilibrado!
Finalizamos esta crônica, com um poema escrito em 1931, pelo poeta Fernando Pessoa ( Lisboa, Portugal. 1888 / 1935 ).
NÃO SEI SER TRISTE A VALER
Não sei ser triste a valer
Nem ser alegre deveras.
Acreditem: não sei ser.
Assim também, sem saber?
Ah, ante a ficção da alma
E a mentira da emoção,
Com que prazer me dá calma
Ver uma flor sem razão
Florir sem ter coração!
Mas enfim não há diferença.
Se a flor flore sem querer,
Sem querer a gente pensa.
O que nela é florescer
Em nós é ter consciência.
Depois, a nós como a ela,
Quando o Fado a faz passar,
Surgem as patas dos deuses
E a ambos nos vêm calcar.
Está bem, enquanto não vêm
Vamos florir ou pensar.
(3-4-1931)
Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. Ática.